domingo, 9 de setembro de 2007

Abordagem Centrada na Pessoa - Carl Rogers

Rogers, ao propor, em 1940, uma maneira diferente de abordar a psicoterapia individual, criou um método original, revolucionário, na época, que foi denominado de não-diretivo.A partir das experiências que ele e seus colaboradores acumularam tanto com a prática clínica quanto com a realização de estudos orientados pelo método científico, seu enfoque psicoterapêutico passou a receber diferentes denominações. Assim, o termo Psicoterapia Não-Diretiva foi abandonado em favor de Psicoterapia Reflexiva ou Centrada no Cliente, que, por sua vez, foi substituído por Psicoterapia Experiencial ou Centrada na Pessoa.
Essa Abordagem aplicada à psicoterapia utiliza o paradigma que o organismo humano, incluindo mente e corpo, é digno de confiança, que as pessoas possuem vastos recursos de autoconhecimento e de modificação de atitudes e comportamentos. Essa tendência direcional ao crescimento, à auto-realização, amplifica-se na presença de certas condições facilitadoras, que são traduzidas pelas atitudes do psicoterapeuta. Em função dessa crença no potencial humano, o psicoterapeuta acolhe e considera seu cliente, em todos os seus aspectos, quer sejam positivos, negativos ou ambíguos, esforçando-se por se colocar no lugar dele, de maneira a captar as emoções, sentimentos e vivências ainda não explicitados pelo cliente. É necessário um envolvimento de pessoa a pessoa, ainda que profissional, visando facilitar que o cliente consiga ser ele mesmo e utilize sua liberdade.
A originalidade desse enfoque reside na descaracterização do psicoterapeuta como expert, como detentor do saber, como superior, bem como prioriza mais os aspectos afetivos da situação do que os intelectuais, enfatizando a relação terapêutica como promotora de crescimento. A importância às experiências passadas, ditas traumáticas, é minimizada enquanto determinante do presente, e o foco de atenção não é o problema e sim a pessoa, em sua singularidade, auto-responsabilidade e capacidade de escolhas construtivas.
É o cliente que dirige seu processo de autoconhecimento, de mudança e o/a psicoterapeuta ajuda o/a cliente a se ajudar, a encontrar suas próprias respostas e, ambos, se tornam mais humanos. É esta atitude que justifica chamar de cliente e não paciente a pessoa que busca apsicoterapia realizada em consonância com a Abordagem Centrada na Pessoa.
Em função da vasta experiência e da comprovação empírica do processo psicoterapêutico, Rogers e seus colaboradores começaram a aplicar a Abordagem em outras atividades: na Educação, criando o Ensino Centrado no Aluno/a, nas Organizações, propondo a Liderança Centrada no Grupo, nos pequenos grupos vivenciais, os chamados Grupos de Encontro e, mais recentemente nos Grandes Grupos ou Comunidades de Aprendizagens Significativas, enfocando os Processos Sociais, a Formação e Transformação da Cultura. Assim, a Abordagem Centrada na Pessoa implica num "jeito de estar"(a way of being) ao se deparar com determinado fenômeno e possui uma grande aplicabilidade, ainda em desenvolvimento.
Wood (1994), refletindo sobre o que é a ACP, nos clarifica: ´É meramente uma abordagem nada mais, nada menos. É um ‘jeito de ser’ (Rogers, 1983) ao se deparar com certas situações que consiste de:
uma perspectiva de vida, de modo geral, positiva;
uma crença numa tendência formativa direcional que Rogers (1983- da tradução para o Português) descreve brevemente como: "Os indivíduos possuem dentro de si mesmos amplos recursos para a auto-compreensão e para modificação de seus auto-conceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver uma clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras"(pág. 38);
- uma intenção de ser eficaz nos próprios objetivos. No caso da Terapia Centrada no Cliente, por exemplo, a intenção é ajudar outro ser humano a fazer mudanças construtivas na personalidade;
- um respeito pelo indivíduo e por sua autonomia e dignidade.
Rogers em uma de suas primeiras tentativas para descrever sua abordagem no que concerne sua aplicação à psicoterapia, propôs que o terapeuta teria uma capacidade de empatia que não seria exagerada, uma atitude genuinamente receptiva e interessada, uma compreensão profunda que tornaria impossível fazer julgamentos morais ou ficar chocado ou horrorizado. "Este terapeuta teria um respeito pela individualidade que vai ainda mais além. Incluiria ‘um respeito, profundamente enraizado pela integridade da pessoa [...] uma vontade de aceitá-la como é, no seu próprio nível de ajustamento, e lhe dar liberdade para conseguir soluções próprias para seus problemas". Rogers achava que se deveria esperar que um terapeuta tivesse ‘uma sólida compreensão de si mesmo, de seus padrões emocionais predominantes, e suas próprias limitações e atalhos. (Kirschenbaum, 1979, pág. 96);
- uma flexibilidade de pensamento e ação, não tolhida por teorias ou práticas anteriores, nem mesmo pela experiência, aberta a novas descobertas. Uma habilidade de se concentrar intensamente e, com clareza apreender a construção linear, pedaço-a-pedaço, bem como perceber sua realidade integral, holística, ‘toda de uma vez’;
- uma tolerância quanto às incertezas ou ambigüidades, sendo capaz de viver numa situação caótica até que fatos suficientes se acumulem para ser possível abstrair-se um sentido deles. Um interesse ‘não na verdade já conhecida ou formulada, mas no processo pelo qual a verdade é tenuamente percebida, testada e aproximada’(Rogers, 1974);
- senso de humor, humildade e curiosidade, sem dúvida, também têm seu papel, embora não sejam exclusivos dessa abordagem.
Referências Bibliográficas:
KIRSCHENBAUM, H. (1979) On Becoming Carl Rogers. N.Y. : Delacorte Press.
ROGERS, Carl Ransom (1974). Remarks on the Future of client-centered therapy. In D. A Wexler e L.N. Rice (eds.) Innovations in Client-Centered Therapy. N.Y.: John Wiley & Sons.
ROGERS, Carl Ransom (1983) Um Jeito de Ser. São Paulo: EPU..
WOOD, John Keith et. al. (orgs.) (1997) Abordagem Centrada na Pessoa. UFES, 3ª Edição